quinta-feira, 27 de maio de 2010

O polêmico criador da célula artificial Craig Venter é um Superstar da biologia

Polêmico criador da célula artificial era mau aluno na escola
Americano Craig Venter teve notas tão ruins que quase não conseguiu completar o segundo grau.
Esta semana o mundo foi surpreendido com o anúncio de uma grande conquista científica: pela primeira vez, uma célula artificial foi criada em laboratório. Entenda a importância que isso tem para nosso futuro e conheça o autor da façanha: um dos cientistas mais polêmicos da atualidade, o americano Craig Venter.

O homem que criou a primeira célula sintética da história teve notas tão ruins quando era adolescente que quase não conseguiu completar o segundo grau. Ele se apaixonou por ciência no lugar mais inesperado possível: um hospital de campo de batalha enquanto servia como recruta na Guerra do Vietnã. Vendo os médicos e as enfermeiras salvando vidas, Craig Venter resolveu estudar medicina, mas logo descobriu a verdadeira paixão: a bioquímica.

Nos anos 80, quando foi trabalhar em Washington, no Instituto Nacional de Saúde, Venter viu uma verdadeira revolução acontecendo: os cientistas começavam a decifrar o DNA. Os códigos genéticos estavam sendo gradualmente identificados. O livro da vida contido em cada célula agora podia começar a ser lido.

Dez anos atrás, Craig Venter e um pesquisador do Instituto Nacional de Saúde em Washington conseguiram mapear toda a sequência genética do ser humano. Fizeram isso três anos antes da meta que o próprio governo americano havia estabelecido para chegar a esse resultado.

Ao longo da carreira, Craig Venter desvendou não só os processos da biotecnologia, mas também os mecanismos de um outro campo: o financeiro. Ele conseguiu centenas de milhões de dólares do governo e da iniciativa privada e construiu um instituto, com laboratórios que estão entre os mais bem equipados do mundo. E os investidores estão satisfeitos.

Craig Venter não tem vergonha da autopromoção. O instituto que fundou não apenas tem o nome dele, mas tem o nome completo, até com a inicial. Chama-se J. Craig Venter Institute.

É um milionário, gosta de grandes barcos, viagens e festas. Mas apesar do estilo de vida de superestrela da Ciência, um dia depois do anúncio, ele admitiu, em uma videoconferência mundial: Não criamos vida.

Disse que apenas alterou o genoma de uma bactéria, e ela não apenas sobreviveu como passou a se multiplicar com novas características.

O genoma é a receita que determina as características dos seres vivos, como tamanho, cor, habilidades.

Tecnicamente, ele copiou vida. Ele tinha todas as informações contidas no genoma de uma determinada bactéria. A partir dessas informações, ele conseguiu montar aquele DNA exatamente como se fosse natural. Montado esse genoma, ele colocou esse DNA dentro da carcaça de outra bactéria. Recebendo esse material genético, ele fez essa bactéria se dividir, explica o neurocientista Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sabendo das informações de um determinado tipo de bactéria, ele fez o que seria equivalente a pegar um telefone, mais ou menos com a idéia de como construí-lo. Essas informações estavam em um computador ou em uma folha de papel. Ele pegou essas informações, comprou as peças, conseguiu montá-las e colocou tudo na carcaça de outro telefone.

Cientifica e academicamente, é muito importante. Você não gerou vida a partir da matéria inanimada. Isso seria criar vida artificial. Ele partiu de vida e deu uma modificada, como fazemos todos os dias em menor escala no laboratório. Mas ele não fez vida a partir da matéria inanimada. Isso ainda está longe de ser feito, diz Marcelo Briones, coordenador do programa Genoma Câncer da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A partir do domínio dessa tecnologia, é possível criar bactérias capazes de degradar um poluente ou de degradar um óleo que estava vazando, adianta Stevens Rehen.

A tecnologia sempre pode ser usada para uma coisa benéfica. Nesse caso, isso pode ser uma coisa benéfica no futuro. Você pode gerar micro-organismos que atacam outros, desobstruir artérias, drogas inteligentes. Fazer baterias biológicas, gerar energia a partir de organismos vivos, explica Marcelo Briones.

Essa tecnologia pode ser comparada com o que aconteceu com a tecnologia nuclear. Ela pode ser usada para a medicina, para gerar energia. E pode ser utilizada para fins bélicos. O mesmo acontece com a aviação. Um avião tem funções das melhores possíveis, mas também pode ser usado para coisas ruins. É preciso regulamentar a tecnologia e criar uma legislação capaz de controlar quem vai fazer uso dessa tecnologia para que ela, de fato, seja só benéfica para a sociedade, constata Stevens Rehen.






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